Habituamos-nos a usar o termo Cultura Popular, de certa forma, erroneamente, eu diria. Como assim? Você poderia perguntar! Porque Cultura é Cultura e, assim sendo, é composta por uma serie de fatores... a menos que falemos apenas e especificamente de uma de suas muitas faces ou modalidade. Mesmo assim, não há como e nem porque fugir a regra. Talvez seja o caso desse texto, onde quero justificar três faces da Literatura de Cordel:
Nosso Cordel é Folclore,
Precisa ser preservado;
Nosso Cordel é Cultura,
Deve ser priorizado;
Nosso Cordel é Linguagem,
Almeja ser ensinado!
O Cordel é Folclore a partir do que identificamos como elemento de identidade cultural de um país, de uma região ou apenas de uma comunidade menor, territorialmente falando; desde que, por suas qualidades, possamos transpor muros em direção ao alcance de momentos de regozijo para a população detentora de tal conhecimento, bem como sua capacidade em transmitir saberes, independentes dos livros ou das formalidades da escrita.
Como exemplo da oralidade, principio do Folclore, cito dois versos (Os filhos dos homens em berço dourado/E tu, meu menino, em palhas deitado) da canção Senhora Santana, interpretada pela cantora e musicista paraibana, radicada em São Paulo, Socorro Lira, em seu CD, A Linha e o Ponto. Estes dois versos, segundo as informações contidas na capa, estão no livro “Cancioneiro do Norte” do também paraibano Rodrigues de Carvalho, em edição de 1903. Serve o texto, apenas para dizer da distancia no tempo em que se cantam as condições de vida dos povos.
O Cordel é Linguagem quando utiliza das diversas formas de comunicar e facilitar o acúmulo do conhecimento humano sobre as razões de suas próprias capacidades. Nesse caso, pela veia literária e musical de poetas do quilate do pernambucano de Araripina, Cacá Lopes, também radicado em São Paulo, quando este produz um texto de muita qualidade e singularidade intitulado “O Cordel do Trava Língua” ou com o mesmo talento canta Caca, em que o refrão diz “O que é que Cacá quer/Cacá quer caqui/Que caqui que Cacá quer/Cacá quer qualquer caqui”. Isso mostra que a linguagem é feita também de desafios, pois os trava-línguas, nada são mais que desafios.
Outro dia, por exemplo, em sala de aula, ministrando oficinas em escolas publicas da cidade do Rio de Janeiro, usei um trava língua de minha autoria, que fez sucesso “É claro que o cloro clareia, Clara!” depois, logo em seguida, eu trocava “É claro que o cloro clareia cara!”
Juntos, em continuação da aula, na E. M. Vivaldo Ramos de Vasconcelos, no bairro de Paciência, construímos uma sextilha e cantamos, fazendo os gestos com as mãos que combinavam com o texto:
O Cordel pegou a corda
E fez o mundo girar...
O Cordel correu o mundo
E foi no Brasil parar!
Gira Cordel, gira Cordel,
Gira e vem me abraçar!
O objetivo foi imaginar que podíamos estar fora do Brasil ou até mesmo que não seriamos brasileiros e que havíamos sidos descobertos pelo Cordel.
Mas, na verdade, para que serve o trava língua? Exatamente para destravar a língua! Eu costumo recomendar o exercício do trava língua para crianças e adultos que fazem aulas de inglês, por exemplo.
Ainda como linguagens, além do texto, os Cordéis, impreterivelmente trazem as Xilogravuras, produzidas por especialistas, que até algum tempo atrás, muitos deles desconheciam ser arte o oficio da produção.
O Cordel é Cultura quando juntamos: comidas, musicas, adivinhações, trovas, ritmos, danças, tipos humanos, lendas, crenças, saberes enfim, num só tabuleiro, que não é da baiana, mas do Nordeste em especial. Foi de lá, que chegado do velho continente, grandes Vates nordestinos como Leandro Gomes de Barros e Patativa do Assaré, se apropriaram do termo e fizeram ressoar seus nomes e talentos. E, por falar em juntar tudo num só tabuleiro, bonito mesmo fez o Poeta e Cordelista cearense, Gonçalo Ferreira, ao reunir pessoas apaixonadas pela Literatura de Cordel, em esforço sobre humano e fundar em 1988, a Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC, que para justificar o feito escreveu: "A Academia Brasileira de Literatura de Cordel é o céu da Literatura - a casa da Poesia".
Saudades meu amigo Poetador!!!!! quando passará pelo meu quintal digital - o meu porão? Espero-te lá... e por esses caminhos que a vida trata de trilhar!
ResponderExcluirPaz e Utopia
www.poraodogv.blogspot.com
Bela aula, Severo, gostei muito.
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